O LARGO DE NAZARÉ




       No período do século XVIII, ocorreu o achado da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelo cabloco chamado Plácido no local do achado foi iniciada a construção da Igreja de Nossa Senhora, que se tornou templo de adoração aos devotos que visitavam a capela.
                   Neste mesmo período ocorreu o primeiro círio no ano de 1793, graças ao milagre realizado pelo santo ao governador da época que estava mal de saúde, e foi ouvido pela pequena santa, e com o passar dos anos a capela se tornou a Basílica Santuário. Em frente à Igreja, depois de roçado, o lugar passou a sediar o arraial de Nazaré que logo ficou conhecido como largo de Nazaré. Logo após recebeu a denominação de Praça Justo Chermont, sempre lembrada pelos moradores como Praça da Santa (BONNA, 1986).
O arraial de Nazaré no principio era apenas uma grande área desmatada, em pequenas barracas eram colocadas, produtos típicos da região, vindos do interior do Estado. A festa se transformava aos poucos em 1861, foi instalada a iluminação por gás de hidrogênio carbonato, já no mês de maio de 1863, pondo-se nas ruas 700 lampiões. Só em 1894 o Barão de Marajó ajustava o fornecimento de luz elétrica nas principais ruas, em 1892 houvesse no arraial quatro focos de luz elétrica na ponta de cada largo. (BONNA, 1986, p. 72).
                   Fundada em 1860, a sociedade do descanso alugava cadeiras para quem desejava apreciar o movimento no largo de Nazaré, esse costume sobreviveu até 1940. Por volta de 1930, além do circo que apresentava pantomimas, (revistas com palhaços e bailarinas), já havia cinemas ao redor que apresentavam filmes especiais. Os noticiários se preocupavam em superar cada noite do outro. O bar soberano era tão freqüentado que nas noites de quinta-feira, sábados e domingos só que chegasse cedo conseguia sentar.
                  Já havia rodas gigantes, os carrosséis, os autopistas, as lojas, uma infinidade de brinquedo todos iluminados de lampadazinhas[1], assim como os coretos da Praça da Basílica, os arcos também recebiam sua decoração em lampadazinhas, eram quatro ao todo: na Avenida Nazaré com a Av. Generalíssimo e outro com a quatorze de Março. Na Av. Generalíssimo Deodoro, um com a Braz de Aguiar e outro com a São Jerônimo, eram mudados todos os anos e era um sucesso do arraial.
                   O empresário de teatro Felix Rocque, trazia artistas famosos para os teatros do arraial. Porém o cinema começou a substituir o teatro, foi se modificando. Os bares mais famosos foram trocando. A tradicional Barraca do Pão de Santo Antônio acabou. Comenta o Liberal (2005), que “as crianças e jovens continuam a desejar ir ao arraial de Nazaré e vão, quanto aos cinemas da praça. Infelizmente os filmes passados durante a quinzena da festa do círio, não são apropriados para o tempo da Festa de Nazaré” e outros parques de fora vindo para o arraial, o parque de diversões (ITA), vindo do estado de Goiás, foi à grande atração no “Círio 200”. Bonito, organizado e com novidades, agradou os freqüentadores, Assim, até a estrutura da praça sofreu mudanças.
A Estrutura arquitetônica, as mais significativas modificações aconteceram no período imperial, no ano de 1851, quando foi erguido no centro do largo o pavilhão da flora. O intendente José Coelho da Gama, no entanto mandou substituído pelo pavilhão da vesta, bem mais moderno e bonito, a mudança aconteceu na época da republica, em 1891 sendo sede do Arraial até o ano de 1982, passando para o terreno ao lado pela diretoria da festa. (BONNA, 1986 p. 110).

                   A construção da primeira praça nos molde assim se apresentavam: quatro pequenos coretos de alvenaria com grandes, o coreto central chamado “coreto das vestais”, (redondo com colunas altas). Os coretos construídos nos quatros cantos do largo, pelo intendente Antônio Lemos, talvez sejam as peças arquitetônicas que mais deixaram saudades.
                    Nas lembranças dos mais antigos, os coretos de Nazaré, utilizados para realização de apresentações musicais. Bandas e grupos que se exibiram em 1981, bandas do exercito, grupo de percussão, banda Carlos Gomes de Abaetetuba, banda dos bombeiros, concerto sinfônico de bandas militares, Sayonara band, banda da aeronáutica, pentagrama, banda da PM, grupo oficina. Porém por falta de conservação adequada, o coreto central, muito estragado, foi desfeito, mas a praça continuava com os outros quatro coretos, nos quatros cantos, simples em alvenaria sextavados, pisos mosaicos, e grades em volta, sendo que de um vão desciam alguns degraus, novamente, por falta de conservação os coretos menores, estragaram servindo somente para agasalhos de mendigos, as grades estavam danificadas. (BONNA, 1986, p. 90).
                   Estes coretos[2] foram retirados no inicio dos anos 70, quando o prefeito Mauro Porto resolveu fazer modificações na praça, um projeto de uma praça nova, da autoria do engenheiro Roberto La Roque, o prefeito se prontificou a executá-la, chegando a construir parte do projeto, porem não completou, pois deixou a prefeitura, restando ainda, nas grades velhas e dois coretos, junto com o antigo relógio da praça ficaram em peças soltas recolhidos pela prefeitura. Como a nova praça não concluída estava em desacordo com a Basílica era tempo de mudança. “A mudança foi determinada para que a praça assumisse sua característica de espaço para reflexão, de oração e espiritualidade” (Pe. Silva).
Em uma reunião no ano de 1981, onde estavam reunidos padre Luciano Brambila, Pároco da Basílica de Nazaré, Dr. Demócrito Noronha, coordenador da diretoria da festa do círio e o Dr. Roberto Martins, engenheiro assunto da reunião Projeto da futura Praça Santuário. (VOZ DE NAZARÉ, 2008).

                  Com a presença do governador Alacid Nunes o prefeito da época Lowrial de Magalhães tendo, como principal discussão a necessidade de adquirir recursos financeiros para o projeto, os governantes assumiram o compromisso de uma colaboração institucional, sendo autorizado a inicio das obras da praça pelos dirigentes da festa do círio. Com a idéia de chamar novos parceiros para contribuição necessária ao projeto, o deputado Jorge Arbage, manteve contato com o governador de São Paulo Maluf, informando sobre a possibilidade da colaboração para as obras do conjunto Arquitetônico de Nazaré orçado em CR$ 50 milhões (Cinqüenta Milhões de Cruzeiros), dando logo sua resposta que o governo de São Paulo entraria com Cinco Milhões e em uma segunda ligação feita para o Ministro dos Transportes, Mario Andreazza, comprometendo se com Cinco Milhões. (VOZ DE NAZARÉ, 2008).
No dia seguinte em uma viagem a Brasília em busca de novos parceiros, seguindo até o presidente da republica General João Batista de Oliveira Figueiredo, com muita fé e otimismo o deputado Jorge Arbage em um papel timbrado da câmara federal escreveu “projeto do conjunto Arquitetônico de Nazaré” valor CR$ 50, 000, 000, 00, se dirigindo para o palácio do planalto para uma audiência, relatando que dois compromissos de ajuda estavam garantidos, Paulo Maluf e Mario Andreazza somando 10 milhões de cruzeiros no total. (VOZ DE NAZARÉ, 2008).

                   Sem palavras com a caneta o presidente escreveu no mesmo papel do projeto e o despachou para o ministro Netto assinado por João Figueiredo. O ministro do planejamento foi incisivo: dispense as outras contribuições, atendendo ao valor total do projeto, esta fala foi interceptada por um jornalista que correspondia ao jornal o liberal, sendo publicado no dia seguinte o fato, o deputado Delfin Netto repassaria o valor para a conta da diretoria da festa do círio.
 6.2 A EDIFICAÇÃO DO CONJUNTO ARQUITETÔNICO DE NAZARÉ.

                  Próximo à conclusão do projeto do CAN, no ano de 1981, outra necessidade surgiu a compra do órgão para a concha-acústica da praça, com um único exemplar na zona franca de Manaus, com uma taxa alfandegária de custo elevadíssimo, entrando em contato com o presidente da Varig (Empresa Aérea), sem qualquer ônus realizou o transporte.
                   Informado pelo Dr. Roberto Martins a Praça Santuário foi Inaugurada no dia 30 de setembro de 1982, autorizado pelo arcebispo de Belém Dom Alberto Gaudêncio Ramos. A principio o presidente Figueiredo concordou em vir a Belém para inauguração da praça e da estrada Br-316 do entroncamento até a ilha de mosqueio no valor de CR$ 400 000, 000, 00 com os trabalhos promovidos pelo departamento Nacional de estrada de rodagens com diretor geral paraense Dr. Elmir Nobre Saad, já falecido. (VOZ DE NAZARÉ, 2008).
 O inicio das obras foi patrocinado pelo governo federal onde o mesmo colaborou com CR$ 120 milhões, sendo que parte do recurso foi empregada nas Obras Sociais ao lado do (CAN) onde passou a funcionar o Arraial de Nazaré. (VOZ DE NAZARÉ, 2008).

                  No dia 30 de Setembro confirmou o deputado Figueiredo que não viria, apesar da esperada presença de dois milhões de romeiros. Assim no dia 08 de Outubro de 1982, foi inaugurado o trecho da Br- 316 e a praça santuário de nossa senhora de Nazaré, com autoridades civis e romeiros, cumprindo a programação da noite, com a solenidade precedida pelo arcebispo de Belém Dom Alberto Gaudêncio Ramos, com Dom Vicente Zico, e religiosas, ressaltando o Arcebispo a beleza arquitetônica da praça, em seguida o representante do Presidente da Republica ler sua mensagem e entregar ao arcebispo.
                   O Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN) trata-se de um conjunto paisagístico bem conhecido não somente pela população da cidade de Belém do Pará, mas por milhares de pessoas, construídas há mais de 25 anos, no Bairro de Nazaré.
                  Quando largo de Nazaré a área era constituída por um grande terreno com piso de areia, após a mudança no paisagismo um novo gramado com, pequenas espécies decorativas e mangueiras que se juntam ás sumaumeiras existentes no local.
   Com a transferência do arraial, para o terreno ao lado o conjunto arquitetônico trouxe uma importante mudança para o Círio de Belém nos anos 80, antes a imagem réplica ficava em exposição dentro da Basílica com a construção de um santuário publico, bem no meio da praça, terminando o círio a imagem da santa fica em exposição durante os 15 dias de festa, podendo ser visitada pelos devotos (LIMA, 2005, p. 58).

                  No aspecto artístico o espaço é bem localizado e estratégico para admirar o frontão da Basílica e as árvores gigantescas que servem de refugio para os milhares de pássaros que se refugiam em seus galhos. A concha acústica que na quinzena da festa de Nazaré se repleta de representações de canto, musica, teatro e balet. Outro evento realizado na praça é a chegada da berlinda no dia do círio, com uma missa campal realizada na praça.
                   No ano de 1992 ganhou o monumento de lembrança do “círio 200”. Seu som se espalha pelos postes de iluminação no gramado, e é comum você ouvir belas músicas populares ou clássicas, nos fins de tarde, está sempre bem bonito, pois nela não são permitidas a presença de vendedores ambulantes e suas barraquinhas. (O LIBERAL, 2005).
                   No dizer de padre Luciano Brambila, vigário de Nazaré na época e o maior incentivador dessa construção, diante de criticas:
 “É uma praça pública. Pertencente á comunidade E a praça de nossa senhora e fica em frente ao seu santuário. Ela não ficará pequena para a multidão do círio. O povo não derrubará a grade. Não o povo paraense que eu conheço e amo. O espírito do povo de Belém no dia do Círio é de orações, de graças, de agradecimentos”. (BONNA, 1986 pág.96).

                   Outros acontecimentos se realizam na praça durante o ano destacando-se a missa de formatura da Unespa e o encerramento da procissão “Corpus Christi”.
                   Atualmente a praça passou pelo primeiro processo de revitalização gerenciada pelos diretores da festa do círio de 2008. No projeto contava mudança na iluminação e paisagismo, com a construção dos chafarizes ao redor da estrutura da cruz, e a santa estilizada.
                   O projeto contou com a parceria do grupo UNIMED-Belém e a Secretaria do Meio Ambiente. Os trabalhos começaram no dia 23 de junho de 2008 e neste período foram plantadas oito palmeiras do tipo imperial que vão mudar o paisagismo da área. Também foi dado acabamento especial nos monumentos da praça: a imagem estilizada da santa e a cruz vazada, ambos construídos em mármore, também serão modificadas os bancos da praça que terão o formato da santa em suas laterais. (O LIBERAL, 2008).
                   
                   A inauguração após a reforma aconteceu no dia 09 de outubro de 2008, no mesmo dia aconteceu à abertura da festa do Círio 2008, com uma celebração na Basílica Santuário, onde estavam presentes as autoridades governamentais, fiéis e devotos.
                   Durante a abertura a festa de Nazaré, também foi inaugurada a primeira fase da revitalização da praça santuário que teve assinatura das arquitetas Natalia Neves, Cicília Braz, Luciana Guimarães e Lorena Pinheiro e do paisagista Mauro Cunha todos da Projectu Arquitetura e consultoria. (O LIBERAL, 2008).


                   As modificações na estrutura da praça e no paisagismo serão para aclimatar melhor o espaço da praça que fica lotada de devotos e fiéis no período da festa do círio e a mesma está completando 25 anos de construção após a mudança de largo de Nazaré para Praça Santuário.



[1] Pequena lâmpada. / pequeno disco com um pavio no centro que bóia no azeite, produzindo luz fraca. (BABYLON, 2008).
[2] Pequeno coro. / espécie de quiosque, geralmente erguido em praça pública, para apresentação de bandas e concertos musicais. (BABYLON, 2008).

[3]  Membro de um povo germânico de bárbaros, destruidor de monumentos (FERREIRA, 2000,).