BELÉM-PA

 ELEMENTOS DE ORIGEM CULTURAL




      Neste capítulo inicia-se um breve histórico sobre como se originou a cidade de Belém, os principais participantes no processo de colonização da cidade, as mudanças ocorridas desde a arquitetura da cidade até o desenvolvimento econômico, citando o composto cultural da cidade.
Em 1615 por ordem de Gaspar Dutra, governador do Brasil na época, Alexandre de Moura tratou de colonizar as terras do Pará, preparando e enviando uma expedição de ordem do capitão Francisco Caldeira Castelo Branco comandado por capitães portugueses. Escolhendo sempre um local seguro onde pudesse desembarcar, em uma ponta de terra mais elevada, construiu, com auxilio do engenheiro - mor do estado Francisco de Farias Mesquita um forte na forma de um quadrado.
                   Segundo Sarges, (2002, p. 44):
A construção dessa fortaleza de madeira com cobertura de palha recebeu então a denominação de forte do presépio, atualmente forte do castelo, dando início a formação do primeiro aglomerado urbano, mais tarde conhecido como Feliz Lusitânia e posteriormente Santa Maria do grão Pará.

      A partir da primeira formação urbana foram se constituindo as grandes obras históricas da cidade, em acompanhamento de sua colonização, se formando os grupos de habitantes da cidade.
       A expansão do “sítio” belenense se processou através de doações de terras. Os colonos portugueses e ordens religiosas, nos meados do século XVII, começaram a chegar para participar da colonização, sendo que os primeiros ocupantes da parte sul da cidade foram os religiosos de ordem dos capuchinhos de Santo Antônio no bairro da Campina. Afirma Sarges (2002, p. 47) que, até a primeira metade do século XVII, a população de Belém se resumia em 80 moradores, excluindo os religiosos, militares e nativos.
A prova do moroso e quase estagnado processo demográfico é o cálculo do Padre Antônio Vieira, em 1661, emprestando a cidadania oitenta moradores, o que J. Lúcio de Azevedo justificou como representativo apenas de ‘gente grada, chefes de família que eram os povoadores do território; a personagem, soldados e religiosos não entraram no cômputo (TOCANTINS apud SARGES, 2002, p. 46).

                          Assim, foram se formando as primeiras comunidades belenenses, passando por um processo de formação, adaptação e consequentemente expansão do espaço físico da cidade de Belém.

      Em sequência, já no século XVIII, os portugueses iniciaram a construção do complexo arquitetônico do convento de Santo Antônio, Igreja de Santo Alexandre, a fachada interna do colégio Nossa Senhora do Carmo. O papel da Igreja Católica foi importantíssimo na colonização efetuada pelos próprios portugueses. No estado do Grão Pará além da catequese, a religião, os missionários ensinavam também os trabalhos domésticos, as artes e os ofícios, tornando os índios aptos para o trabalho e para a lavoura da terra. Registra-se neste momento a presença do padre Antônio Vieira, que chefiava a ação missionária em todo o externo norte, do Ceará e do Pará (MONTEIRO, 1924, p. 31).
Um foco que passou por várias mudanças foi a economia da região, através da extração e exportação dos produtos naturais para países europeus, enfatizando o látex transformado em borracha, extraído da região amazônica.
Entre 1840 e 1920, toda atividade econômica da região passou a girar em torno da economia extrativista da borracha. Em decorrência da nova economia que se instalavam, novos contingentes chegam à cidade imprimindo uma ampliação e modificação na paisagem do seu urbano (SARGES, 2002, p. 52).

      Com o crescimento da economia foram se edificando obras arquitetônicas como a Casa do governador, Teatro da Paz, o teatro da cidade, expansão das ruas da cidade, etc. Foi um período efervescente, em decorrência da exportação dos produtos naturais da região.
       Por volta de 1920, configura-se o fim de um “ciclo” de crescimento, em razão da redução do látex amazônico determinada pela concorrência asiática e pela produção da borracha sintética em laboratórios europeus e norte-americanos. Belém deixou de ser a capital da borracha, mas apesar disso, o urbano configurado ao longo dos séculos permaneceu sob novas condições e com outras características. A transformação pela qual passou Belém, engendrada pela economia gomífera, significou a materialização da modernidade expressa através da edificação de obras, urbanização, formação de elites, na organização de um modelo ideal de sociedade moderna. (SARGES, 2002, p. 53).
                   Assim, o número de habitantes sofreu significativo aumento. O crescimento econômico através da grande procura dos produtos naturais da região, bem como o desenvolvimento industrial da cidade já no final do século XIX, contribuiu para o desenvolvimento dos meios de transporte, além de trazer outros benefícios para a sociedade belenense.
      Continuando o histórico da cidade, um elemento participante desde a fundação da cidade até os dias atuais é a própria formação cultural dos paraenses, suas principais características, os traços culturais encontrados na dança, arte, artesanato, o composto tradicional de Belém e seus habitantes.
       A cultura está impregnada pela religião católica trazida pelos colonizadores, em união as crenças indígenas encontradas entre os habitantes nativos e pelas crenças dos escravos negros que foram trazidos da África para suprir a mão-de-obra indígena que resistia até a morte para não ser escravizada. As festas dos santos padroeiros nas cidades do interior do Estado, geralmente, concentram e exibem as várias manifestações da cultura. Os círios consagrados a esses santos padroeiros são manifestações religiosas que extrapolam suas condições litúrgicas para se tornarem expressões culturais de cada povo. (MONTEIRO, 1924, p.41).
Segundo o historiador paraense Vicente Salles, “a nossa história é, por conseguinte, a história do modelo europeu de cultura transplantado para a AmazôniaAmazônia, nos dias atuas. Tudo é experiência de vida de seus Habitantes”. (MONTEIRO, 1924, p. 42).    

      Assim, a cultura do Estado apresenta um diferencial em sua miscigenação, com a mistura das raças foram se agregando traços culturais, tornado uma característica única da cultura paraense a mistura de raças.
                  A cultura paraense está representada nas mais variadas formas: na música, na dança, no artesanato, na literatura popular, que foram conservadas e enriquecidas por organizações folclóricas e populares, que não deixaram contaminar por costumes de outra região. Outra manifestação é o artesanato de Miriti, de Palha e de barro como a cerâmica tapajônica e marajoara, a cerâmica produzida nos municípios visinhos de Belém, etc. Presente no período do círio os brinquedos de Miriti, vindo de Abaetetuba, representando a civilização fluvial. Como heranças culturais do encontro entre índios, brancos e negros. (MONTEIRO, 1924 p. 45).
                   O Carimbó, um exemplo da arte musical popular da Amazônia, com origem no município de Marapanim, hoje está difundido por outras cidades e representa a identidade de todo o Estado.
Ainda nos dias atuais, a alimentação do paraense traz essa marca do extrativismo, como a farinha, o tucupí. E a maniçoba, por exemplo, feito de folhas de raízes, e em muitas regiões de castanhais nativos, os alimentos só são preparados com o leite da castanha, extraindo diretamente das pevides, e o extrativismo se fazendo presente na vida do paraense. (MONTEIRO, 1924, p. 46).

                   A cultura paraense é composta pelo extrativismo até os dias atuais, nos municípios da cidade ainda encontram-se famílias que tem o extrativismo como principal fonte de renda, integrando a família no processo de produção dos alimentos, como na agricultura familiar.