O CÍRIO


ÍCONE DA CULTURA PARAENSE



             Um momento essencial no calendário simbólico dos paraenses, que está em foco à identidade, os valores e o sistema cultural no qual adquire amplo significado é o evento que festeja nossa cultura, a festa de Nossa Senhora de Nazaré, a padroeira dos paraenses. Com a vinda dos portugueses que trouxeram a imagem para o nosso Pará há mais de dois séculos, inicialmente para o município de Vigia e posteriormente para Belém, sendo que o primeiro círio saiu do Palácio do governo, a pouco mais de 200 anos, no tempo do governo Francisco Souza Coutinho. Assim, a tradição desse culto teve origem na cidade da Galiléia, onde nasceu a virgem de Nazaré, cuja, a imagem teria sido localizada por um monge, nas imediações de Mérida na Península Ibérica, no século IV, posteriormente, já no século VIII, o rei cristão Rodrigo na companhia do Frei Romano, veio encontrá-la, conduzindo-a a uma ampla lapa no sítio de Pederneira na atual Freguesia de Nazaré, onde esteve escondida por quatro séculos, até que foi achada por pastores, quando veio a adquirir muitos devotos. (BRITO, 2000, p. 165). Com isso, a tradição do círio, se manifestava em Portugal, representada por muitas graças alcançadas pelos devotos da virgem.
Afirma, Brito (2000, p. 166) que:
O primeiro milagre a Dom Fuás Roupinho, primeiro almirante dos reis, levava sempre a imagem da santa aos prazeres da caça, quando a beira de um abismo invoca a virgem, que lhe apareceu atendendo seu pedido. Construindo a ermida da Memória no morro do Sítio onde se operou o milagre a D. Fuás Roupinho em 1182, um pequeno templo rústico, mas que atrai muitos devotos. (BRITO, 2000, p. 167).

Na cidade de Belém, temos um templo dedicado a Virgem de Nazaré, o maior e mais rico templo, a Basílica de Nazaré, ali mesmo os católicos festejam de uma maneira ou de outra o “dia do círio”.
Na verdade o círio de Nazaré é um grande ritual, com todos os elementos pertinentes a um ritual coletivo no qual não só se festeja a santa. O círio integra um complexo ritual que a festa de Nazaré, incluídos aí o período de quinze dias de festividades, almoço do círio e todos os eventos que tem relação com a festa. (MONTEIRO, 1924 p. 43).

    O Círio de Nazaré é um ritual[1], que tem grande importância não só para os paraenses, mas para os visitantes, que vem a cidade no período da festa.
                   A festa do Círio de Nazaré já é reconhecida entre as maiores do mundo. Toda a cidade de Belém, portanto, católica ou não, se vê envolvida pela perspectiva da festa, seja em termos sociais (à volta para a festa dos parentes que vivem distantes, a chegada de um enorme contingente de pessoas que ocupam a cidade, os novos conhecimentos etc.) ou em termos econômicos (serviços de hotelaria, comércio de artefatos, turismo de todo tipo, transporte, restaurantes e toda infra-estrutura necessária à recepção dos convidados da festa, romeiros e pagadores de promessas) ou mesmo religiosos (mesmo outras religiões devem se posicionar com relação ao Círio, manifestação gigantesca de fé católica, totalizante, que impressiona fortemente os que assistem ao evento). Toda a região entra em movimento a partir da perspectiva da festa. Três eventos, contudo, podem ser entendidos como mais significativos e organizadores dos demais, dentro da festa. (AMARAL, 1998).
Na região norte, o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, conhecido também como “carnaval do devoto” é a grande festa, capaz de atrair durante os quinze dias em que se realiza a população dos estados vizinhos, da região nordeste e atualmente até o sul do país. A população amazônica em geral se dirige à grande festa de Belém, a fim de participar das várias e gigantescas procissões, uma delas com mais de um milhão de pessoas nas ruas, e que termina com um grande almoço em que toda a cidade come o mesmo prato típico, embora cada família o faça em sua casa. (AMARAL, 1998, p.15).

        A principal manifestação cultural da cidade de Belém realizada no mês de outubro é um forte atrativo turístico da Cidade de Belém, pois, além da procissão, trasladação e romaria existem outros momentos da festa religiosa, tendo como ponto de encontro à praça santuário. O núcleo da praça está inserido no contesto cultural por ser o local desta manifestação. Sendo a grande festa de Belém, reunindo eventos durante quinze dias de festividades, organizada pelo governo, igreja. Nem sempre foi assim. O círio iniciou com uma feira realizada em Belém, mais precisamente no local da actual Praça Santuário, no mês de Setembro, no dia de nossa senhora de Nazaré.
                   Posteriormente com a autorização do governador da época, realizou-se a primeira procissão dedicada à virgem de Nazaré, movimentando a população moradora e municípios vizinhos a participarem da festa, sendo realizado até os dias atuais. Vale ressaltar a manifestação participante do almoço do círio, uma expressão tradicional, que confraternizar a festa a virgem de Nazaré em união familiar.
O esfuziante clima de confraternização faz com que o círio seja denominado de “Natal dos paraenses”, e como tal a mesa como na ceia natalina e representada pelo almoço do círio, onde um principal prato típico da região é a maniçoba, (maníva), produzida com ingredientes da culinária paraense. (CÍRIO’S, 2005, p. 55).

                         Com isso o círio se torna ícone na cultura paraense unindo toda cidade na festividade no mês de Outubro, onde a cidade respira a tradição, o patrimônio imaterial que é o círio, dando um sentimento de identidade da cultura paraense através de suas manifestações culturais, vivenciada por cada paraense.









[1] Ver também: relativo a ritos, liturgia, cerimonial (FERREIRA, 2000).